ETFs Dominam Mercado: Fluxos Recordistas Desafiam o Federal Reserve

Fluxos recordistas em ETFs estão remodelando os mercados de capitais americanos de forma que desafia até mesmo a influência do Federal Reserve, com ativos chegando a US$ 12,19 trilhões em agosto, impulsionados por entradas massivas de US$ 120,65 bilhões no mês. Esse crescimento, concentrado em fundos de ações, títulos e criptomoedas, revela como investimentos passivos automatizados, como planos de aposentadoria, estão alimentando uma maré ascendente que pode reduzir a sensibilidade dos mercados às ações do Fed.

Explosão nos Ativos em ETFs

De acordo com o comunicado de imprensa da ETFGI, consultoria independente, os ativos totais em ETFs listados nos EUA atingiram US$ 12,19 trilhões até o final de agosto, superando os US$ 10,35 trilhões de todo o ano de 2024. A Bloomberg destacou esse aumento na sexta-feira, observando que os fluxos de investimento estão desafiando a influência tradicional do Federal Reserve. Em agosto sozinho, investidores alocaram US$ 120,65 bilhões em ETFs, elevando as entradas acumuladas no ano para US$ 799 bilhões, o maior valor já registrado. Isso supera o recorde anterior de US$ 643 bilhões em 2024.

Líderes no Mercado

O crescimento está dominado pelos maiores provedores. A iShares lidera com US$ 3,64 trilhões em ativos, seguida pela Vanguard com US$ 3,52 trilhões e a família SPDR da State Street com US$ 1,68 trilhão. Juntas, essas três empresas detêm quase três quartos do mercado de ETFs americano.

Distribuição dos Fluxos

ETFs de ações capturaram a maior parcela dos aportes de agosto, com US$ 42 bilhões. Fundos de renda fixa adicionaram US$ 32 bilhões, enquanto ETFs de commodities atraíram quase US$ 5 bilhões.

ETFs de Criptomoedas em Ascensão

ETFs ligados a criptomoedas tornaram-se um componente significativo. Dados da SoSoValue indicam que ETFs de spot bitcoin e ether listados nos EUA gerenciam mais de US$ 120 bilhões no total, liderados pelo iShares Bitcoin Trust (IBIT) da BlackRock e pelo Wise Origin Bitcoin Trust (FBTC) da Fidelity. Apenas os ETFs de Bitcoin representam mais de US$ 100 bilhões, equivalentes a cerca de 4% do valor de mercado de US$ 2,1 trilhões do bitcoin. ETFs de Ether acrescentam outros US$ 20 bilhões, apesar de serem relativamente recentes no mercado.

Investimentos em Piloto Automático

O aumento reflete como ETFs tradicionais e de cripto se tornaram o veículo preferido para investidores de todas as escalas. Nos EUA, grande parte dos recursos vem de contas de aposentadoria 401(k), onde trabalhadores destinam parte de cada salário. Uma parcela crescente dirige-se a “fundos com data-alvo”, que ajustam automaticamente as alocações – passando gradualmente de ações para títulos – conforme os poupadores se aproximam da aposentadoria. Portfólios modelo e robo-advisers seguem regras similares, canalizando fluxos para ETFs de forma automática, sem intervenções diárias dos investidores.

A Bloomberg descreveu isso como um efeito de “piloto automático”: a cada duas semanas, contribuições de milhões de trabalhadores são direcionadas a fundos de índice que compram as mesmas cestas de ações, independentemente de avaliações, manchetes ou políticas do Fed. Analistas citaram pela Bloomberg afirmam que essa demanda constante ajuda a explicar por que os índices acionários dos EUA continuam subindo, mesmo com sinais de pressão em empregos e inflação.

Desafio à Influência do Fed

A tendência questiona o papel do Federal Reserve. Tradicionalmente, ajustes nas taxas de juros enviavam sinais claros que reverberavam em ações, títulos e commodities. Taxas mais baixas incentivam a tomada de risco, enquanto taxas mais altas a limitam. Porém, com ETFs absorvendo centenas de bilhões em ritmo fixo, os mercados tornam-se menos responsivos às orientações dos bancos centrais.

Essa tensão fica evidente neste mês. Com o Fed preparando um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas em 17 de setembro, ações permanecem próximas a recordes históricos, ouro negocia acima de US$ 3.600 por onça e bitcoin troca em torno de US$ 116.000, próximo ao pico histórico de US$ 124.000 em meados de agosto. ETFs de ações, títulos e cripto registram entradas robustas, indicando que investidores se posicionam para juros mais baixos, mas também refletindo uma maré estrutural de alocações passivas.

Prós e Contras

Defensores, segundo a Bloomberg, apontam que o crescimento dos ETFs reduziu custos e democratizou o acesso aos mercados. No entanto, críticos alertam que a escala dos aportes pode amplificar a volatilidade em caso de resgates concentrados durante desacelerações, já que ETFs movimentam cestas inteiras de ativos simultaneamente. Como a Bloomberg resumiu, essa “máquina perpétua” de investimento passivo pode estar redefinindo os mercados de formas que o banco central tem dificuldade para confrontar.