A Mastercard está em negociações avançadas para adquirir a Zero Hash por cerca de US$ 1,5 a US$ 2 bilhões, uma movimentação que integraria uma rede de liquidação cripto regulamentada a um dos maiores processadores de pagamentos do mundo. A Zero Hash, que opera infraestrutura para tokenização e é regulamentada em múltiplos países, processa fluxos para grandes emissores e já levantou capital significativo com apoio de nomes como Morgan Stanley e Apollo.
Mastercard e o Espaço Cripto: Um Investimento Estratégico
A Mastercard está em vias de realizar um investimento substancial no mercado de criptoativos, demonstrando um interesse cada vez maior neste setor. Em negociações avançadas para adquirir a Zero Hash, uma empresa de infraestrutura cripto, por um valor estimado entre US$ 1,5 e US$ 2 bilhões, a gigante dos pagamentos busca fortalecer sua posição no cenário de finanças digitais.
Zero Hash: A Infraestrutura por Trás da Tokenização
A Zero Hash, fundada em 2017, opera como a infraestrutura essencial para diversas iniciativas de tokenização, embora não seja uma marca voltada diretamente ao consumidor. A empresa detém regulamentação como transmissora de dinheiro em todos os Estados Unidos, possui a BitLicense de Nova York e opera sob frameworks equivalentes para ativos virtuais na Europa, Canadá e Austrália. Seus serviços já são utilizados por emissores de renome como BlackRock, Franklin Templeton e Republic, facilitando a movimentação de valor em vinte e duas cadeias e sete stablecoins principais para fundos tokenizados.
Este ano, a Zero Hash atraiu um investimento de US$ 104 milhões, com uma avaliação de US$ 1 bilhão, em uma rodada liderada pela Interactive Brokers e com a participação de investidores como Morgan Stanley, Apollo e SoFi.
Os Benefícios da Aquisição para a Mastercard
Para a Mastercard, a aquisição da Zero Hash representa uma oportunidade significativa para modernizar sua rede. Atualmente, a rede da Mastercard opera dentro dos horários tradicionais do sistema financeiro, com compensação durante a semana e liquidação T+1 ou T+2, e fechada nos fins de semana. A Zero Hash, por outro lado, opera 24 horas por dia. A posse dessa infraestrutura permitiria à Mastercard liquidar pagamentos de cartões e de conta para conta utilizando stablecoins regulamentadas, reduzindo os prazos de liquidação para T+0, tudo dentro de seu próprio perímetro de conformidade.
Embora a Mastercard já tenha demonstrado interesse em stablecoins com o piloto “wallets-to-checkouts” em abril de 2025, uma compra da Zero Hash a transformaria de uma participante em sandbox para uma provedora de infraestrutura.
O Momento Oportuno do Mercado
O momento atual é particularmente favorável para tal movimento estratégico. O volume de stablecoins em circulação ultrapassa os US$ 300 bilhões, com liquidações on-chain mensais de aproximadamente US$ 1,25 trilhão. Embora grande parte desse volume ainda ocorra entre exchanges e protocolos DeFi, uma parcela crescente provém de pagamentos transfronteiriços e carteiras fintech, nichos onde as redes de cartões tradicionais têm enfrentado desafios para manter margens de lucro elevadas.
A concorrência já se movimenta nesse espaço: a Visa tem parceria com a Allium para análises de stablecoin, a Stripe reativou liquidações em USDC e a PayPal desenvolve seu próprio token. A Mastercard, ao não agir, corre o risco de desintermediação, o que reforça a necessidade de controlar sua própria infraestrutura comparável.
Interseção de Mercados em Crescimento
A Zero Hash está posicionada na intersecção de dois mercados em rápida expansão: stablecoins e tesourarias tokenizadas. Aproximadamente US$ 35 bilhões alocados em produtos de ativos do mundo real on-chain, majoritariamente títulos de curto prazo que lastreiam stablecoins, passam por entidades como a Zero Hash. Isso oferece à Mastercard um ponto de entrada não apenas em pagamentos de consumidores, mas também em fluxos de tesouraria institucional, onde a liquidação instantânea e programável poderia substituir os processos mais lentos de bancos correspondentes e câmaras de compensação.
A sobreposição desses dois domínios, pagamentos de consumidores e liquidez institucional, pode justificar o prêmio que a Mastercard está disposta a pagar, aproximadamente o dobro da última avaliação da Zero Hash.
Uma Nova Era para Redes de Cartões
Se o acordo for concretizado, será a primeira vez que uma rede de cartões de primeira linha possuirá diretamente um processador de stablecoin totalmente regulamentado. Este movimento se insere em uma corrida silenciosa por controle, onde Visa, Stripe e Coinbase também investem em pontes fiat-para-stablecoin para capturar taxas de liquidação futuras. A compreensão é que quem controlar a camada compatível e sempre ativa entre contas bancárias e blockchains, deterá o futuro dos pagamentos.
A ação da Mastercard redefine essa corrida: em vez de experimentar nas margens, ela está integrando a infraestrutura cripto internamente.
Desafios e Oportunidades Regulatórias
Existem obstáculos a serem superados. As licenças da Zero Hash exigirão aprovações de mudança de controle por parte de reguladores estaduais, do NYDFS e de autoridades europeias sob o MiCA, processo que pode levar meses. Adicionalmente, embora o projeto de lei de stablecoin do Senado dos EUA tenha avançado, sua promulgação completa ainda aguarda.
No entanto, a direção política é clara. Tanto nos EUA quanto na UE, as stablecoins lastreadas em fiat estão sendo tratadas como instrumentos financeiros legítimos, com padrões de reserva e divulgação que atraem usuários institucionais. Essa clareza regulatória diminui o risco reputacional para a Mastercard ao integrá-las diretamente.
A Economia por Trás do Movel
A atração econômica é considerável: mesmo uma pequena fração do fluxo global de stablecoin pode gerar receita substancial se monetizada como uma rede. Uma participação de 0,75% do volume anualizado de US$ 12 trilhões em stablecoin representaria cerca de US$ 90 bilhões em atividades de liquidação direcionáveis para a Mastercard. Com uma taxa de adoção média de 12 a 20 pontos base, isso se traduziria em US$ 100 a US$ 180 milhões em receita anual potencial.
Embora esse valor seja menor em comparação com a receita bruta de US$ 25 bilhões da empresa, o segmento de stablecoins apresenta um crescimento significativamente mais rápido do que as transações de cartão. Além disso, ao contrário do modelo de intercâmbio, as taxas neste novo modelo se concentram em dados, conformidade e liquidez, e não em gastos do consumidor.
O Prêmio Estratégico
O prêmio maior, contudo, é estratégico. Com a crescente migração de capital para o ambiente on-chain, as redes de cartões se deparam com a decisão de competir ou se tornar a camada de liquidação. A Mastercard parece ter feito sua escolha. A Zero Hash não oferece apenas APIs e licenças, mas um modelo para a sobrevivência de gigantes tradicionais de pagamentos: integrar a infraestrutura cripto antes que ela as substitua.
