O Friend.com está causando burburinho com sua campanha publicitária em larga escala no transporte público de Nova York e em Los Angeles. O produto é um wearable de IA que se autodenomina “seu confidente mais próximo”, causando debates intensos e reações diversas.
O Pingente de IA e sua Campanha Disruptiva
O Friend.com, uma campanha publicitária que se tornou onipresente no metrô de Nova York e em Los Angeles, está chamando atenção com seus slogans íntimos e cativantes. A campanha, descrita como a maior em publicidade outdoors da MTA este ano, apresenta 11.000 anúncios “sempre ativos”, alguns dominando estações inteiras.
O que é o Friend?
O produto em si é um wearable de IA composto por um microfone, um chip Bluetooth e um modo de escuta constante. Este modo envia informações para o Gemini AI do Google, que gera respostas e armazena “memórias” em um grafo visual. O dispositivo, fabricado em Toronto, é comercializado como “seu confidente mais próximo”. Até o momento, cerca de 3.000 unidades foram vendidas, com 1.000 enviadas, gerando aproximadamente US$ 348.000 em receita, grande parte reinvestida em fabricação e marketing.
A Visão do Criador
O criador vê o Friend como “uma expressão dos meus primeiros vinte anos”, refletido até nos materiais e no design. Ele enfatiza a forma circular para facilitar o manuseio e a embalagem impressa em inglês e francês, reflettendo sua origem.
“Você pode perguntar sobre qualquer aspecto dele, e eu posso te dar um detalhe específico”, disse ele. “É apenas o que eu gosto e o que eu não gosto… uma amalgamação dos meus gostos neste momento.”
Recepção e Polêmica
Não demorou para que os anúncios se tornassem alvos de grafites, com comentários que vão desde o inofensivo até a arte de protesto com frases como “IA não se importa se você vive ou morre.” e “Capitalismo de vigilância.”. As mídias sociais fervilham com posts sobre os anúncios e o vandalismo.
A Estratégia do Vandalismo
Surpreendentemente, o criador considera o vandalismo uma “validade artística”, afirmando que o espaço em branco nos anúncios era intencional e que o vandalismo fazia parte do plano.
“O público completa a obra”, disse ele, sorrindo. “O capitalismo é o maior meio artístico.”
Para ele, os outdoors vandalizados são provas do sucesso de sua intervenção no metrô, cujo objetivo não é apenas vender o pingente de IA de US$ 129, mas sim provocar um debate cultural sobre a natureza da amizade na era da inteligência artificial.
Os Detalhes Legais e a Natureza do Dispositivo
Os termos de serviço do Friend.com exigem a renúncia do direito a julgamentos por júri, ações coletivas e processos judiciais, direcionando disputas para arbitragem. Cláusulas sobre “consentimento de dados biométricos” permitem à empresa gravar áudio e vídeo passivamente e coletar dados faciais e de voz para treinar a IA. O criador justifica os termos pesados como uma forma de lidar com um produto experimental e evitar exposição legal.
Ele enquadra as partes “sempre ouvindo” como atribuição de alto-falante, não vigilância, e afirma que o dispositivo só grava quando percebe feedback háptico. Ele também declarou que os modelos não estão sendo treinados com dados de usuários no momento.
Segurança e Criptografia
O criador compara o Friend a “um YubiKey vivo”, onde a chave de criptografia está embutida no pingente, tornando os dados inacessíveis sem ele.
“Se eu esmagar seu Friend com um martelo, seus dados serão perdidos para sempre.”
Investimento e o “Zeitgeist”
O Friend arrecadou fundos de importantes investidores. O modelo de negócios ainda está em desenvolvimento, mas o foco principal é a atenção. O criador vê sua campanha no metrô como um “destino internacional” para a cultura da IA, acreditando que o grafite comprova seu sucesso.
A Crítica Comparativa
Suresh Venkatasubramanian, diretor do Center for Technological Responsibility na Brown University, compara o Friend a “colares de rádio” do início do século XX, associados a riscos à saúde.
“Eu olho para o Friend e penso, ‘Estamos cometendo o mesmo erro?’”, disse Venkatasubramanian à Fortune. “Estamos apressando essas máquinas de intimidade na vida das pessoas sem evidências de que são seguras, ou mesmo úteis.”
Essa crítica ecoa o ceticismo em torno de outras iniciativas de hardware de IA que fracassaram.
Trajetória e Confiança do Criador
Desde adolescente, o criador demonstrou talento para criar espetáculos significativos, desenvolvendo projetos de grande impacto social. Essa experiência lhe conferiu uma confiança notável.
“Você pode simplesmente fazer coisas”, disse ele à Fortune no ano passado. “Não acho que sou mais inteligente do que qualquer outra pessoa, eu simplesmente não tenho tanto medo.”
O Futuro dos Relacionamentos Digitais
Ele acredita que o futuro reside em “empresas pós-AGI”, focadas na construção de produtos emocionais.
“Meus planos são medidos em séculos”, disse ele com um sorriso.
No entanto, a realidade atual do Friend enfrenta desafios como lentidão, esquecimento e desconexões. A “personalidade irritante” da IA, modelada no criador, foi criticada e admitidamente “lobotomizada”.
“Nem todo mundo quer ser meu amigo”, disse ele.
Ele conclui, destacando a importância dos relacionamentos digitais em contraste com melhorias utilitárias.
“Você não vai mudar o mundo muito se tornar um pouco mais fácil pedir uma pizza,” ele disse. “O futuro são relacionamentos digitais.”

